C.S. Lewis é mundialmente conhecido pelos livros — e mais recente pelos filmes — da série “As Crónicas de Nárnia”, no entanto o autor inglês também escreveu o famoso “The Screwtape Letters”, traduzido para o português como Cartas de um Diabo a seu Aprendiz. O livro mostra de forma inteligente e bem-humorada como “Screwtape”, ou Maldanado, como algumas traduções apresentam, instui seu sobrinho, ”Wormwood” ou Vermelindo, na arte de tentar os seres humanos e em última instância leva-los para o inferno.
Em uma resenha instigante, Kevin Clark acrescenta uma visão sobre as cinco passagens da obra destacadas com mais frequência pelos leitores no Kindle. Nota dos editores: Publicado originalmente em 25 de setembro de 2014.
Kevin Clark, Seton Magazine | Tradução: Equipe Instituto Newman
Cartas de um Diabo a seu Aprendiz
The Screwtape Letters [Cartas de um Diabo a seu Aprendiz], escrito por C. S. Lewis em 1942, é uma obra clássica de apologética e inspiração cristã.
O livro é uma série de cartas de um tentador experiente chamado Screwtape para um aprendiz de temperamento chamado Wormwood. Nas cartas, Screwtape aconselha Wormwood sobre como afastar um certo “paciente” humano de Deus e levá-lo para as profundezas do inferno.
Aqui estão as cinco passagens de The Screwtape Letters que são destacadas com mais frequência pelos leitores no Kindle:
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A estrada segura para o inferno
De fato, a estrada mais segura para o inferno é a gradual — o declive suave, macio sob os pés, sem curvas repentinas, sem marcos, sem placas de sinalização.
Costuma-se dizer que estamos indo em direção a Deus ou nos afastando dele. Entretanto, se tivermos uma sensação muito grande de estarmos nos afastando dele, devemos parar e refletir para que possamos voltar a nos aproximar dele, e buscar a santidade.
Deus quer que entendamos o verdadeiro estado de nossa alma — a maneira como Ele nos vê. Mas Satanás quer que fiquemos na escuridão, nos afastando, mas sem perceber; caindo ainda mais, mas sem reconhecer que estamos caindo. Então, depois de termos caído muito, podemos finalmente olhar para cima e ver o quanto estamos longe de Deus, e nos desesperar com a capacidade de Deus de nos trazer de volta.
Para entender nosso verdadeiro eu, a confissão frequente é uma ferramenta indispensável, pois exige que nos avaliemos com sobriedade e sem sentimentalismo. É especialmente bom ir ao mesmo confessor regularmente, pois isso nos dá menos chance de justificar nossas falhas.
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Mantendo as coisas fora
É engraçado como os mortais sempre nos imaginam colocando coisas em suas mentes: na realidade, nosso melhor trabalho é manter as coisas fora delas.
Não há nada que funcione naturalmente a favor do diabo. O mundo real, aquele que vemos quando olhamos para fora de nosso ego limitado, é bom, verdadeiro e belo. O diabo é mau, falso e feio. A natureza é maravilhosa, expansiva e extravagante, assim como Deus. Somente mantendo-nos enclausurados nos cantos de nossa própria mente é que Satanás pode nos impedir de perceber isso.
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O que acontecerá comigo?
Não há nada como o suspense e a ansiedade para barricar a mente de um ser humano contra o Inimigo (Deus). Ele quer que os homens se preocupem com o que fazem; nosso trabalho é mantê-los pensando no que acontecerá com eles.
Alguém disse certa vez que Deus o ajudará com problemas reais, mas não necessariamente com problemas que você imagina do nada. Muitas vezes passamos os dias preocupados com esta ou aquela coisa que pode acontecer — apesar do fato de que 99 vezes em 100 nossos temores são totalmente infundados. Quantas vezes já nos preocupamos, preocupamos e preocupamos com algum evento futuro, apenas para descobrir que, na realidade, não havia nada com que nos preocuparmos?
Só podemos ter certeza de que temos o dia de hoje. Hoje temos obrigações de dever e amor. Hoje, vamos fazer essas coisas. Como Jesus nos diz nos Evangelhos: “Não vos preocupeis, pois, demasiadamente, pelo dia de amanhã; o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado” (Mt. 6, 34).
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Abandonado, mas obediente
Nossa causa nunca está mais em perigo do que quando um ser humano, não mais desejando, mas ainda pretendendo fazer a vontade de nosso inimigo, olha em volta para um universo do qual todos os traços dele (de Deus) parecem ter desaparecido, e pergunta por que foi abandonado mas ainda obedece.
Pensamos no amor como uma emoção, mas ele é, na verdade, um ato de vontade. É uma escolha que fazemos todos os dias. Jesus nos diz: “Aquele que retém os meus mandamentos e os guarda, esse é que me ama” (Jo. 14, 21). Portante se amamos a Deus, obedeceremos aos mandamentos mesmo quando não quisermos, mesmo quando Ele parecer distante de nós.
As emoções humanas vão e voltam. Em alguns dias nos sentimos melhor do que em outros; até mesmo em alguns momentos do dia nos sentimos melhor do que em outros. Mas, independentemente de como nos sentimos em um determinado momento, o amor de Deus é constante. Deus não nos ama menos nos dias ruins do que nos bons, e devemos fazer o mesmo por Ele.
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Aridez emocional
Se conseguirem superar essa secura inicial com sucesso, eles se tornarão muito menos dependentes da emoção e, portanto, muito mais difíceis de serem tentados.
Há momentos em que nosso amor pelas coisas de Deus é grande, e outros em que as coisas de Deus não nos comovem nem um pouco. Às vezes, podemos passar pelo que chamamos de “A Noite Escura da Alma”. Essa noite escura pode, de fato, durar muitas noites. Após sua morte, foi revelado que Madre Teresa passou pela “noite escura da alma” durante a maior parte de sua vida adulta.
Se Madre Teresa era tão atormentada pela secura espiritual, como ela conseguiu levar adiante sua missão de tornar tangível o amor carinhoso de Deus para os mais pobres entre os pobres? Foi somente porque ela entendeu que seu trabalho não dependia de um sentimento emocional de amor, mas sim do ato de sua vontade de demonstrar amor.
O mesmo acontece conosco. Nem sempre sentimos um amor emocional por nosso cônjuge, filhos, irmãos ou colegas de trabalho. Mas a falta de um amor emocional não deve nos impedir de agir com amor em relação a eles.
Referências
- N.T. As citações do livro Cartas de um Diabo a seu Aprendiz são traduções nossas do artigo de Kevin Clark; não utilizamos uma edição em português.
O autor
Kevin Clark formou-se no Christendom College com um diploma de história, que prontamente pôs em prática trabalhando na área da informática. Foi proprietário de uma empresa de desenvolvimento de software e é atualmente o Diretor de Operações Informáticas da Seton Home Study School.