A Liturgia no Coração da Educação – Parte II

Nesta segunda parte do artigo, serão apresentadas citações de documentos da Igreja que reforçam os princípios discutidos anteriormente, destacando a centralidade da formação integral na educação católica e a importância da liturgia como fonte e meta da vida cristã. Esses textos oferecem uma base sólida para refletirmos sobre a verdadeira essência e propósito de uma educação iluminada pela fé.   
David Clayton, New Liturgical Movement | Tradução: Equipe Instituto Newman


Na primeira parte deste artigo descrevi o método pedagógico, e articulei minha compreensão do que é uma educação católica. Nesta segunda parte listarei algumas citações de documentos da Igreja que enfatizam os pontos que estou defendendo em relação à meta de uma educação católica.

Citações de documentos da Igreja sobre educação

A escola é um lugar privilegiado no qual, através de um encontro vivo com uma herança cultural, ocorre a formação integral. (A Escola Católica, 26; pub. A Sagrada Congregação para a Educação Católica, 1977)

O fim próprio e imediato da educação cristã é cooperar com a graça divina na formação do verdadeiro e perfeito cristão, isto é, formar o mesmo Cristo nos regenerados pelo Batismo (…). Precisamente por isso a educação cristã abraça toda a extensão da vida humana, sensível, espiritual, intelectual e moral, individual, doméstica e social, não para diminuí-la de qualquer maneira, mas para a elevar, regular e aperfeiçoar segundo os exemplos e doutrina de Cristo. Por isso o verdadeiro cristão, fruto da verdadeira educação cristã, é o homem sobrenatural que pensa, julga e opera constantemente e coerentemente, segundo a sã razão iluminada pela luz sobrenatural dos exemplos e doutrina de Cristo; ou antes, servindo-Nos da expressão, agora em uso, o verdadeiro e completo homem de carácter. (Pio XI, Divini Illius Magistri, 60; Encíclica sobre a Educação Cristã, 1929, 94, 95, 96)

A formação integral da pessoa humana, que é o objetivo da educação, inclui o desenvolvimento de todas as faculdades humanas dos alunos, juntamente com a preparação para a vida profissional, a formação da consciência ética e social, a conscientização do transcendental e a educação religiosa. Toda escola e todo educador da escola devem se esforçar para formar indivíduos fortes e responsáveis, capazes de fazer escolhas livres e corretas. (Leigos católicos nas escolas: Witnesses to Faith, 17; pub. Sagrada Congregação para a Educação Católica, 1982)

A presença da Igreja no campo escolar manifesta-se de modo particular por meio da escola católica. É verdade que esta busca, não menos que as demais escolas, fins culturais e a formação humana da juventude. É próprio dela, todavia, criar um ambiente de comunidade escolar animado pelo espírito evangélico de liberdade e de caridade, ajudar os adolescentes para que, ao mesmo tempo que desenvolvem a sua personalidade, cresçam segundo a nova criatura que são mercê do Batismo, e ordenar finalmente toda a cultura humana à mensagem da salvação, de tal modo que seja iluminado pela fé o conhecimento que -os alunos adquirem gradualmente a respeito do mundo, da vida e do homem. (Paulo VI, Gravissimum Educationis, 24)

A verdadeira educação, porém, pretende a formação da pessoa humana em ordem ao seu fim último e, ao mesmo tempo, ao bem das sociedades de que o homem é membro e em cujas responsabilidades, uma vez adulto, tomará parte. (Paulo VI, Gravissimum Educationis, 6)

Antes de tudo, toda instituição educacional católica é um lugar para encontrar o Deus vivo que, em Jesus Cristo, revela seu amor e verdade transformadores. (Bento XVI, Encontro com Educadores Católicos, Universidade Católica da América, Washington DC, abril de 2008)

Por consequência o verdadeiro cristão, em vez de renunciar às obras da vida terrena ou diminuir as suas faculdades naturais, antes as desenvolve e aperfeiçoa, coordenando-as com a vida sobrenatural, de modo a enobrecer a mesma vida natural, e a procurar-lhe utilidade mais eficaz, não só de ordem espiritual e eterna, mas também material e temporal. (Pio XI, Divini Illius Magistri, 67; Encíclica sobre a Educação Cristã, 1929, 98)

Todos os cristãos que, uma vez feitos nova criatura mediante a regeneração pela água e pelo Espírito Santo, se chamam e são de fato filhos de Deus, têm direito à educação cristã. Esta procura dar não só a maturidade da pessoa humana acima descrita, mas tende principalmente a fazer com que os batizados, enquanto são introduzidos gradualmente no conhecimento do mistério da salvação, se tornem cada vez mais conscientes do dom da fé que receberam; aprendam, principalmente na acção litúrgica, a adorar Deus Pai em espírito e verdade (cfr. Jo. 4,23), disponham-se a levar a própria vida segundo o homem novo em justiça e santidade de verdade (EL 4, 22-24); e assim se aproximem do homem perfeito, da idade plena de Cristo (cfr. Ef. 4,13) e colaborem no aumento do Corpo místico. Além disso, conscientes da sua vocação; habituem-se quer a testemunhar a esperança que neles existe (cf. 1Pd. 3,15), quer a ajudar a conformação cristã do mundo, mediante a qual os valores naturais assumidos na consideração integral do homem redimido por Cristo, cooperem no bem de toda a sociedade. (Paulo VI, Gravissimum Educationis, 2)

É bom que toda a catequese preste uma especial atenção à via da beleza (via pulchritudinis). Anunciar Cristo significa mostrar que crer n’Ele e segui-Lo não é algo apenas verdadeiro e justo, mas também belo.  (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 167)

Dos documentos sobre a liturgia:

Contudo, a Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força. Na verdade, o trabalho apostólico ordena-se a conseguir que todos os que se tornaram filhos de Deus pela fé e pelo Batismo se reúnam em assembleia para louvar a Deus no meio da Igreja, participem no Sacrifício e comam a Ceia do Senhor. (Sacrosanctum Concilium, 10)

Enfim, a catequese mistagógica deve preocupar-se por mostrar o significado dos ritos para a vida cristã em todas as suas dimensões: trabalho e compromisso, pensamentos e afectos, actividade e repouso. Faz parte do itinerário mistagógico pôr em evidência a ligação dos mistérios celebrados no rito com a responsabilidade missionária dos fieis; neste sentido, o fruto maduro da mistagogia é a consciência de que a própria vida vai sendo progressivamente transformada pelos sagrados mistérios celebrados. Aliás, a finalidade de toda a educação cristã é formar o fiel enquanto homem novo » para uma fé adulta, que o torne capaz de testemunhar no próprio ambiente a esperança cristã que o anima. (Bento XVI, Sacramentum Caritatis, 64)

A Sagrada Liturgia não é um hobby para especialistas. Ela é fundamental para todos os nossos esforços como discípulos de Jesus Cristo. Essa profunda realidade não pode ser enfatizada demais. Devemos reconhecer a primazia da graça em nossa vida e trabalho cristãos, e devemos respeitar a realidade de que, nesta vida, o melhor encontro com Cristo é na Sagrada Liturgia. (Conferência Sacra Liturgia 2013, Roma. Discurso de abertura do Bispo Dominique Rey de Frejus-Toulon, França, publicado nos anais da conferência, p. 15, pub Ignatius, 2013)

Assim se compreende por que o termo agape se tenha tornado também um nome da Eucaristia: nesta a agape de Deus vem corporalmente a nós, para continuar a sua acção em nós e através de nós. Só a partir desta fundamentação cristológico-sacramental é que se pode entender corretamente o ensinamento de Jesus sobre o amor. A passagem que Ele faz realizar da Lei e dos Profetas ao duplo mandamento do amor a Deus e ao próximo, a derivação de toda a vida de fé da centralidade deste preceito não é uma simples moral que possa, depois, subsistir autonomamente ao lado da fé em Cristo e da sua re-actualização no Sacramento: fé, culto e ethos compenetram-se mutuamente como uma única realidade que se configura no encontro com a agape de Deus. Aqui, a habitual contraposição entre culto e ética simplesmente desaparece. No próprio « culto », na comunhão eucarística, está contido o ser amado e o amar, por sua vez, os outros. Uma Eucaristia que não se traduza em amor concretamente vivido, é em si mesma fragmentária.  (Bento XVI, Deus Caritas Est, 14)

Nada há de autenticamente humano — pensamentos e afectos, palavras e obras — que não encontre no sacramento da Eucaristia a forma adequada para ser vivido em plenitude. (Bento XVI, Sacramentum Caritatis, 71)

Na liturgia, brilha o mistério pascal, pelo qual o próprio Cristo nos atrai a Si e chama à comunhão. Em Jesus, como costumava dizer São Boaventura, contemplamos a beleza e o esplendor das origens. Referimo-nos aqui a este atributo da beleza, vista não enquanto mero esteticismo, mas como modalidade com que a verdade do amor de Deus em Cristo nos alcança, fascina e arrebata, fazendo-nos sair de nós mesmos e atraindo-nos assim para a nossa verdadeira vocação: o amor. (Bento XVI, Sacramentum Caritatis, 35)

Muitos manuais e planificações ainda não se deixaram interpelar pela necessidade duma renovação mistagógica, que poderia assumir formas muito diferentes de acordo com o discernimento de cada comunidade educativa. (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 166)


O Autor

David Clayton é artista, escritor e professor. Ele cresceu na Inglaterra e se formou na Universidade de Oxford. Ele é o reitor da Pontifex University, e Visiting Fellow na Thomas More College of Liberal Arts em New Hampshire, e tem uma reputação internacional como pintor, com grandes encomendas no Reino Unido e nos EUA.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *