Neste artigo instigante, Dean Barker nos convida a refletir sobre a dimensão penitencial do Advento, um aspecto muitas vezes esquecido no mundo moderno. Explorando tradições litúrgicas, práticas de jejum e a importância de uma preparação espiritual autêntica para o Natal, o autor propõe cinco passos práticos para recuperar o verdadeiro espírito deste tempo sagrado. Descubra como pequenas mudanças podem transformar o Advento em uma jornada de conversão e santidade.
Dean Barker, OnePeterFive | Tradução: Equipe Instituto Newman
Quando o Papa Pio XI promulgou a sua encíclica “Divini Illius Magistri” em 31 de dezembro de 1929, ela se tornou o documento papal mais importante, até então, sobre a educação cristã da juventude — uma distinção que ela mantém até os dias de hoje. Seus contemporâneos chamaram a encíclica de “Magna Carta” do seu campo, admirados com sua profundidade, perspicácia e clareza.
A maioria dos católicos romanos sabe que a Quaresma é um período de penitência. De acordo com as leis atuais, as pessoas de 18 a 59 anos são obrigadas, sob pena de pecado mortal, a observar o jejum e a abstinência de carne na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa, bem como a abstinência nas sextas-feiras. A maioria dos católicos “abre mão de algo” na Quaresma, mas isso não é tecnicamente obrigatório sob pena de pecado. Antes do Concílio Vaticano II e das reformas que se seguiram, os católicos eram obrigados, sob pena de pecado mortal, a observar o jejum e a abstinência parcial em todos os dias, exceto no domingo, com abstinência total nas sextas-feiras (antes dos tempos modernos, o jejum era ainda mais rigoroso).
Durante todo o ano, muito pouca penitência é exigida por lei. A única penitência obrigatória, sob pena de pecado mortal, é que os católicos deixem de comer às sextas-feiras ou substituam a carne por alguma outra penitência. Antes do Vaticano II, havia pelo menos algum jejum, embora reduzido em relação ao rigor de nossos pais. Pelo menos éramos obrigados a nos abster de carne às sextas-feiras, bem como a observar as Têmporas e as vigílias das principais festas. Agora tudo isso é opcional.
Anteriormente, para receber a Eucaristia, era preciso jejuar de todos os alimentos e bebidas (até mesmo água e remédios) da meia-noite até o momento da comunhão. Os sacerdotes não tinham permissão para oferecer a missa a menos que tivessem jejuado desde a meia-noite. A fim de acomodar as missas noturnas, o Papa Pio XII eliminou o jejum de água e medicamentos em 1953 e reduziu o jejum para três horas em 1957, ao mesmo tempo em que incentivou aqueles que podiam observar o jejum da meia-noite a fazê-lo. O jejum sempre foi dispensado para aqueles que estavam correndo risco de morte. Em 1964, o Papa Paulo VI reduziu o jejum eucarístico para uma hora e dispensou totalmente do jejum alguns trabalhadores e pessoas doentes.
Diante de tudo isso, não é de se surpreender que o período do Advento dificilmente seja tratado como um período de penitência. Essa falta de penitência é acelerada por nossa cultura comercializada, que vê o Advento como um momento para celebrar o Natal. Mas para manter Cristo no centro do Natal, devemos também mantê-lo no centro do Advento.
Durante o Advento, os católicos, especialmente os católicos tradicionais, têm a oportunidade de restaurar o caráter penitencial deste tempo litúrgico. Todo Advento, eu prometo que farei uma penitência séria, mas isso ainda não aconteceu. Talvez você esteja no mesmo barco. Por isso, gostaria de sugerir cinco maneiras de tornar este Advento penitencial.
Primeiro, mantenha suas celebrações alinhadas com o período litúrgico. Mais especificamente, não coloque (ou pelo menos não decore) a árvore até a véspera de Natal. De acordo com o Fatima Center, a “Árvore de Natal” não foi originalmente criada para o Natal, mas para o dia da festa bizantina dos Santos Adão e Eva, que é 24 de dezembro. A “árvore do paraíso” seria decorada com maçãs para imitar a árvore do conhecimento do bem e do mal. A sequência de comemorar Adão e Eva antes do Natal nos lembra do motivo da vinda de Cristo: reunir a humanidade a Deus. Outras decorações, como a coroa de velas e um presépio, são uma ótima maneira de manter o controle de onde estamos no Advento.
Jejum e abstinência
A penitência mais importante é aumentar o jejum e a abstinência. Vá devagar. Nas sextas-feiras, tente observar o jejum e a abstinência completa de carne, e o jejum com abstinência parcial nas quartas-feiras, com exceção do dia 8 de dezembro. No rito oriental, o jejum começa em 15 de novembro, ocorre às segundas, quartas e sextas-feiras e, dependendo do dia, não consome carne, laticínios, peixe, óleo ou álcool. As vigílias de Santo André, da Imaculada Conceição e do Natal são ótimos dias para jejuar e se abster em preparação para as principais festas, sendo as duas últimas dias santos de obrigação. Além disso, tente observar o jejum eucarístico da meia-noite, mas, no mínimo, espere três horas antes de receber a Santa Comunhão.
As têmporas geralmente caem no meio de dezembro. A quarta-feira e o sábado são dias de jejum e abstinência parcial, enquanto a sexta-feira também é de abstinência total. Esses dias são tradicionalmente oferecidos aos bispos, sacerdotes e diáconos. Durante a temporada de doações, não podemos nos esquecer de oferecer essa ajuda espiritual aos nossos sacerdotes. Na era do Traditionis Custodes, os bons sacerdotes estão sendo atacados, e devemos a eles nosso apoio.
O antigo rito romano
Falando em Traditionis Custodes, a terceira penitência é frequentar exclusivamente a Missa Tradicional em Latim, se ainda não estiver fazendo isso. Desde as reformas conciliares, a Santa Missa e o Advento têm sofrido do mesmo defeito: em vez de serem um sacrifício a Deus, tornaram-se centrados em nós. Você ficará surpreso ao ver o aumento drástico de orações, gestos, reverência e preparação para receber Nosso Senhor, e desejará recuperar todos eles. Se isso exigir uma viagem mais longa, ofereça-a como penitência. Quando não puderem assistir à missa diária, façam as leituras diárias da missa tradicional em família.
Confissão
A quarta penitência é o Sacramento da Confissão. Nenhuma oração ou penitência é meritória para a alma em pecado mortal, portanto, antes e durante o Advento, não deixe de se confessar para preparar sua alma para o Natal. Algumas paróquias terão serviços de Confissão, onde muitos padres estarão disponíveis. Como o Padre Pio disse certa vez: “Não quero que as almas fiquem longe da confissão (por) mais de uma semana. Mesmo um quarto limpo e desocupado junta poeira; volte depois de uma semana e verá que precisa ser limpo novamente!”
Nossa Senhora
A quinta penitência é ficar perto de Nossa Mãe Santíssima, pois dezembro é dedicado à sua Imaculada Conceição. Reze o Rosário diariamente, especialmente os Mistérios Gozosos, que são atribuídos ao domingo, à segunda e à quinta-feira no Advento. O Angelus, tradicionalmente rezado três vezes ao dia, também é uma ótima maneira de lembrar de Maria dando à luz Nosso Senhor. Durante o Advento, nós a celebramos duas vezes, com as festas da Imaculada Conceição, em 8 de dezembro, e de Nossa Senhora de Guadalupe, no dia 12, embora seja possível que o Domingo Gaudete tenha precedência. Uma meta minha será rezar todos os quinze mistérios pelo menos um dia por semana.
O fato de que muito pouco do Advento está sob pena de pecado mortal não deve ser uma desculpa para não fazer penitência. Nosso Senhor nos diz que “se não fizerdes penitência, todos de igual modo perecereis” (Lc 13:3). Dada a crise em que a Igreja Católica se encontra, precisamos fazer penitência, agora mais do que nunca. Esperamos que seguir essas dicas nos ajude a restaurar o espírito penitencial na época do Advento.
O Autor
Dean Barker é um católico tradicional convertido do protestantismo. Ele se formou na Bridgewater College em 2021, onde obteve um bacharelado em redação profissional e foi editor de esportes do jornal da escola. Anteriormente, ele cobriu política para a Campus Reform. Seus escritos católicos também foram apresentados no The Remnant. Ele assiste à missa tradicional na Capela do Imaculado Coração de Maria em Front Royal, VA.
