A Eleição Papal e a Sucessão de Reis

Em tempos de incerteza, somos lembrados de que a eleição de um papa não depende apenas de deliberações humanas, mas também da intervenção divina suscitada pela oração dos fiéis. Este artigo reflete sobre a importância de suplicar ao Espírito Santo para que a Igreja seja conduzida por pastores segundo o coração de Jesus, destacando como até os gestos mais simples de devoção podem influenciar profundamente esse processo sagrado. “Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor.”


Elie Dib, Catholic Exchange| Tradução: Equipe Instituto Newman


Você já desejou poder votar no conclave para eleger o próximo papa, mesmo não sendo um cardeal? Você sabia que ainda pode participar desse processo sagrado por meio do poder da oração? Ao orar sinceramente ao Espírito Santo para que guie os cardeais na escolha de uma alma de acordo com o coração do Senhor, você está exercendo uma profunda influência espiritual. Você não precisa pesquisar os candidatos — que geralmente ficam escondidos da vista do público. Não é necessário fazer nenhum registro, nem apresentar credenciais. Tudo o que você precisa é de um terço na mão, um tempo diante de Jesus no Santíssimo Sacramento, uma Santa Missa, uma novena ou o breviário. Esses simples atos de devoção podem ajudar a moldar o futuro da Igreja.

Em seu comentário profundo sobre o segundo livro de Crônicas, capítulo 22, Don Dolindo Ruotolo traça um notável paralelo entre a sucessão de reis na antiga Judá e a eleição de papas na Igreja Católica. O capítulo detalha como, após a morte do rei Jorão, seu filho mais novo, Ochozias, foi nomeado rei pelos “habitantes de Jerusalém” após o massacre de seus irmãos mais velhos por invasores estrangeiros.

Don Dolindo ficou impressionado com esse trecho incomum — em vez da fórmula típica de sucessão usada em outras partes das Escrituras, essa passagem observa especificamente o envolvimento popular na seleção de Ochozias. O texto diferenciado levou Don Dolindo a contemplar a misteriosa interação entre a vontade divina e o arbítrio humano na sucessão da liderança. Ele observa que, assim como Deus preservou a linhagem davídica apesar das falhas humanas e das maquinações políticas na antiga Judá, Ele também mantém a sucessão apostólica ininterrupta de São Pedro ao longo da história, mesmo quando os elementos humanos nas eleições papais são imperfeitos.

Don Dolindo observa ainda que a subsequente usurpação do trono pela Rainha Athalia e a tentativa de destruir a linhagem real — frustrada pela preservação oculta do bebê Joas — espelham as várias tentativas históricas de comprometer ou usurpar a autoridade papal, todas as quais, em última análise, não conseguiram quebrar a sucessão divinamente protegida da cadeira de Pedro.

Posteriormente, Dom Dolindo destaca como nossas fervorosas orações podem realmente influenciar as eleições papais, mostrando que, quando os fiéis apelam sinceramente ao Espírito Santo em vez de confiar nas maquinações humanas, Deus intervém diretamente para orientar a escolha de seu Vigário na Terra:

A eleição de um papa envolve dois elementos predominantes: o humano e o divino. Os homens elegem, e Deus escolhe e sanciona. Quando os homens são tementes a Deus e apelam não para as paixões, mas para o Senhor, Ele intervém diretamente para eleger o sucessor de São Pedro, respondendo às suas orações oferecidas livremente, iluminando-as. Quando o elemento humano forma, por assim dizer, uma atmosfera suja, engrossada pela liberdade humana — quando os homens não apelam a Ele, mas agem de acordo com suas paixões — Deus não intervém no primeiro momento da eleição. Ele permite que eles ajam como desejam e intervém depois, estabelecendo como Papa aquele que os homens escolheram e mereceram.

A eleição coloca o Papa na linha ininterrupta dos sucessores de São Pedro, nos quais a luz da autoridade suprema predomina de tal forma que as falhas individuais não têm peso. O Supremo Pastor é como uma lâmpada, empoeirada e manchada externamente, que se torna uma luz radiante uma vez conectada à corrente que ilumina os outros e os guia com segurança pelos caminhos sinuosos da vida. O respeito de Deus pela liberdade humana permanece primordial em cada ato da providência divina, até mesmo na eleição do líder da Igreja — talvez a mais alta expressão de sua inefável reverência por suas criaturas.

Isso resolve uma das maiores dificuldades nas eleições papais e nomeações de bispos, onde o Espírito Santo coloca líderes para governar a Igreja de Deus. A mente humana se esforça para entender como um pastor indigno pode ser ‘nomeado pelo Espírito Santo’ e pode se rebelar contra essa autoridade. No entanto, até mesmo um pastor desobediente, instalado canonicamente, é colocado pelo Espírito Santo como uma expressão da liberdade que Deus respeita escrupulosamente. É tolice e pecado recusar obediência ao representante de Deus sob o pretexto de indignidade, pois a legitimidade de seu cargo permanece intacta. Quando o Pastor Supremo é eleito canonicamente, os fatores que influenciam sua eleição são incidentais à sua validade, e a obediência é obrigatória.

Além disso, mesmo sob Papas menos santos e pastores menos íntegros, os santos floresceram na Igreja — inclusive os maiores santos. Isso mostra que aqueles que buscam a Deus podem receber a graça até mesmo de um canal defeituoso. A infinita bondade de Deus não nega ajuda, nem mesmo aos indignos, tornando-os canais de graça para almas sinceras. Como a luz do sol atravessando a neblina, sua graça aquece e nutre a alma humilde que se esforça para crescer.

Importa se o homem que representa o poder divino é reprovável? A autoridade que ele detém é distinta de sua vida pessoal — uma joia que mantém seu valor mesmo enterrada em solo estéril. Nossa fé se torna maior quando honramos a Deus por meio de um líder que oculta seu cargo; nossa submissão se torna mais profunda, mais meritória e mais frutífera em bênçãos sobrenaturais. Que Deus julgue os homens e que nos curvemos diante da autoridade deles quando ela representa a sua própria autoridade.

Ao contemplarmos esse mistério sagrado da orientação divina e da participação humana, vamos nos voltar para a Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos. Agradecemos a Jesus e Maria por terem escolhido excelentes papas para a Igreja, mesmo durante nossas vidas. Por meio da poderosa intercessão de Maria, que nossas orações se tornem ainda mais eficazes no trabalho do Espírito Santo de selecionar pastores dignos.

Em tempos de incerteza sobre a liderança da Igreja, lembre-se da promessa duradoura de Cristo a Pedro: “E eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). Essa garantia divina, aliada à sua certeza: “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação do mundo” (Mt 28, 20), confirma que o Senhor nunca abandona sua Igreja. O olhar maternal de Maria vigia a barca de Pedro, e seu coração imaculado bate em perfeita harmonia com o desejo de seu Filho de ter pastores santos.

Oremos com confiança, sabendo que a providência de Deus protege sua Igreja em meio a todas as tempestades e que até mesmo nossas menores orações, oferecidas pelas mãos de Maria, contribuem para o esplendor de seu plano. Nas palavras de Don Dolindo, nossa fé aumenta quando confiamos nos caminhos misteriosos de Deus, e nossa submissão à Sua vontade divina se torna mais profunda, mais meritória e mais frutífera em bênçãos sobrenaturais.

 


A Autora

Elie G. Dib está estudando os escritos e a jornada de vida do Servo de Deus, Don Dolindo Ruotolo. Conhecido por seu monumental comentário em 33 volumes, Don Dolindo deixou uma marca indelével no trabalho literário religioso.

 

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