Publicado em 1996, Apocalipse: A História de Padre Elias, de Michael D. O’Brien, é uma obra de grande impacto na literatura católica contemporânea. O romance combina um enredo envolvente com uma profunda reflexão sobre a fé, apresentando uma narrativa que ressoa com questões espirituais e culturais da atualidade. Neste artigo, Joseph Pearce explora os principais aspectos do livro, destacando suas influências, personagens e relevância no cenário literário cristão.
Joseph Pearce, Crisis Magazine | Tradução: Equipe Instituto Newman
Michael D. O’Brien e sua literatura contracultural
Nesta edição de “em poucas palavras”, vamos nos concentrar na obra Apocalipse: A História de Padre Elias, de Michael D. O’Brien, um escritor que surgiu como a voz mais importante nas catacumbas literárias, desconhecido do grande público tóxico, mas amplamente lido e muito respeitado por aqueles que buscam o tipo de literatura católica sólida que a cultura secular tem procurado “cancelar”.
Apocalipse, publicado em 1996, é o primeiro e mais conhecido romance de Michael D. O’Brien. Ele conta a história de David Schäfer, um judeu sobrevivente do holocausto que se converte ao catolicismo e, posteriormente, torna-se monge e padre carmelita.
Uma trama apocalíptica
Os esforços do padre Elias para combater o poder de um líder mundial charmoso e sinistro, que tem todas as características de ser o Anticristo, suscitam comparações com o enredo de Lord of the World (O Senhor do Mundo), de Robert Hugh Benson.
Deixando de lado as semelhanças óbvias, a diferença mais significativa é que O’Brien não ambienta seu romance em um futuro distante, mas em uma época essencialmente contemporânea. O papa doente, mas santo e corajoso, tem uma semelhança impressionante com João Paulo II, e o cardeal fictício que é prefeito da Congregação da Fé tem uma semelhança notável com Joseph Ratzinger.
A relevância duradoura da obra de O’Brien
Isso torna as reviravoltas apocalípticas do enredo muito mais próximas de casa do que no apocalipse futurista de Benson. Surpreendentemente e paradoxalmente, o cenário contemporâneo de O’Brien resistiu ao teste do tempo muito melhor do que a distopia futurista de Benson. Benson teve pouca opção a não ser bancar o profeta, no sentido da ficção científica, inventando máquinas voadoras e outras tecnologias da era futura para fazer com que seu cenário parecesse realista para seus leitores do início do século XX.
As visões de futuro de Benson e O’Brien
Hoje, no futuro real, o futuro fantasioso de Benson parece pitoresco e antiquado, na melhor das hipóteses, ou, na pior, simplesmente bobo. Em comparação, o cenário do final do século XX de O’Brien parece contemporâneo e duradouro. Ainda podemos imaginar um papa doente, mas corajoso, e cardeais igualmente corajosos, bem como membros corruptos e teologicamente modernistas da cúria que estão em aliança com o espírito diabólico do mundo.
Um dos pontos fortes do Apocalipse de O’Brien é a maneira como ele dá vida plena e completa ao seu herói. Ele não é meramente humano, em um sentido abstrato, mas uma pessoa sólida e concretamente real. Somos tocados por sua dignidade e dúvida e ficamos tão incomodados com suas fraquezas quanto somos tocados por elas.
A Jornada de Padre Elias
Nós o vemos como um menino judeu em Varsóvia ocupada pelos nazistas, que se esconde das autoridades antes de fugir. Somos tão assombrados quanto ele em seu retorno a Varsóvia como um monge carmelita idoso. Ficamos comovidos com as descobertas que ele faz e enojados com o mal diabólico que é descoberto.
Outro ponto forte do livro é a descrição da conversão, no leito de morte, de um homem depravado envelhecido e decrépito, cujo passado é revelado para o desgosto e desconforto do Padre Elias e, no entanto, transformado pela caridade do santo padre na presença de um pecador miserável no limiar do abismo da morte.
O paradoxo da fraqueza e o poder da redenção
Um aspecto fortemente paradoxal do romance é a maneira como ele lida com a fraqueza do protagonista. Antes de sua conversão e chamado para o sacerdócio e a vida religiosa, a esposa grávida do Padre Elias foi morta em um atentado terrorista. A perda da esposa e do filho ainda não nascido deixa cicatrizes duradouras, além da cura, levando-o a se voltar radicalmente para Cristo na conversão, lembrando-nos das frases imortais de Oscar Wilde sobre o poder potencialmente positivo e transformador do sofrimento: “De que outra forma, senão por um coração partido, o Senhor Cristo pode entrar?”
Mais tarde, quando o Padre Elias conhece uma bela viúva, cujo marido havia sido brutalmente assassinado pelas forças sinistras e diabólicas que ele foi chamado a enfrentar, ele se apaixona por ela. Essa poderosa tentação, um desejo que poderia comprometer sua pertença à Noiva de Cristo, é tratada com grande tato e destreza pelo autor, a marca de um contador de histórias verdadeiramente talentoso.
O sobrenatural e o equilíbrio narrativo da obra
Esse dom também está presente na maneira pela qual o sobrenatural penetra na história. A presença da luz milagrosa exige uma leveza de toque por parte do autor, cuja ausência já arruinou muitos romances cristãos devido à manipulação desajeitada do deus ex machina.
O’Brien também consegue, na maior parte do tempo, evitar a descida para a pregação, uma falha fatal que mata grande parte da literatura cristã com o beijo do didatismo mortal. Dito isso, a exclusão de algumas páginas de reflexões espirituais gratuitas teria exorcizado o espírito didático nas raras ocasiões em que ele surge.